quinta-feira, 1 de julho de 2010


Acordei. Acordei cansada, insanamente viva. Essa existência me faz tão fatigada: do tudo que ainda não existiu ou do nada que consome essa angústia, tão humana.
Tomei um café qualquer, talvez para acordar de mais um sonho vão. É, talvez por isso estivesse cansada: queria continuar sonhando; outra face mortal.
Mas lembrei-me: ainda que quisesse sonhar, mais cedo ou não, tudo vira pesadelo. E remexo meu inconsciente, tão frágil, fútil, carente de uma saudade vã, ou mesmo de um sonho fúnebre.
Não poderia pintar minhas férteis linhas imaginárias que recobriam aquele instante. Todos os sonhos (tão pesadelos) pareciam dançar sobre a mesa do café. Pergunto-me se não havia bebido demais na noite anterior.... Mas não, havia sonhado demais, talvez.
E nesse instante revelam-se todas as faces humanas! Esse inconstante olhar, tão tolo e incansável... Essa mediocridade em fuga... Patética! Meu desejo de ser mais, presa nessa carne? Como esperam o mais se só possuo uma rua encharcada, em levante desespero?
Já não me recordo como sai de casa. Só lembro de ter-me visto sobre uma calçada cinza, ainda com a roupa da noite anterior. De repente, tudo que senti foram as ruas, olhando para o vazio, que tão meu era...
Corri... Como sempre fui, impulsiva; um âmago feliz, quem sabe... Talvez me faltasse isso! Essa maturidade que me parecia tão triste... Mais temores fustigaram meu corpo, já castigado pelo nada abstrato que as ruas perfaziam... Corri!
Parei sobre a noite... Como me fazia tola! A rainha gélida dos meus passos incertos, guiei-me, como por instinto, a ti.
Não havia mais cordas sobre meu corpo. Seria eu livre? Seria quem sou? Ou já o sou? Ou quem sabe poderia voar...!
Oh Deus, me faz livre! Queria poder mentir sempre sobre essa alegria qualquer que me consumia, suavemente, assim como a luz prata que me tomava, cândida, fada! Voei sobre estrelas por breves momentos lúcidos, e agarrei-me fortemente sobre um riso, de tal sinceridade, que nem mesmo a verdade o descreveria.
Já não havia mais cansaço, só plenitude! A noite acalentava-me, doce mãe das auroras, vinha a me embalar sobre véus negros! O vago do tudo me preenchia, de forma que meus sentidos já não eram suficientes para sentir. Era necessário mais, mais! Mais que uma vida tola, mais que um amanhecer qualquer! Queria ser tudo, e o amanhã não o permitia... Mas de que importa? Eu tenho a noite!!!
Como o tudo que se vai, assim foi o anoitecer... Amanheceu, e assim como todo sonho que se torna pesadelo, acordei, mais uma vez...

"Cogito, ergo sum"