sábado, 22 de maio de 2010

O comum não passava do amanhã. Os dias vão e vão, na sutil intenção da plenitude humana, tão vazia e limitada. E eu continuo esperando a lua... A melancolia não corrompe caros irmãos,... Vede quão doce é o sabor do tempo!
Queria poder pedir para o senhor voltar. Queria ter os mesmos sabores, mas talvez menos dissabores. Talvez mais solidão. Quero ter vida, coesão.
Quem sabe uma estrela, um singelo delicado motivo para sentir; quem sabe mesmo uma gota da imensidão que o tudo se faz perante a mim, tão vago e complexo, que mesmo uma pequena lágrima se faria mundo.
Na verdade, esse medo é só disfarce. Queria jogar meus sonhos em um chão qualquer e me deitar sobre o azul-lilás de uma relva incomum. Minha relva. Queria mesmo ter domínio sobre tudo que me faz feliz, ou não queria, quem sabe a felicidade seja descontrole.
Mas o tempo, sim... Esse vil e traiçoeiro, que me faz sua serva de mil passados, flagelados pelo futuro, tão fatigado. Queria romper meus momentos insanos e arrependimentos tardios, meus frios devaneios, ou mesmo as noites vazias.
Só não quero o sol... Não quero cegar-me com linhas tão claras, não quero assustar-me com o previsível. Na verdade, já tenho muito. Só me falta saciar essa sede de Lua, ou de qualquer outra coisa mais.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Cisnes Brancos

Ó cisnes brancos, cisnes brancos,
Porque viestes, se era tão tarde?
O sol não beija mais os flancos
Da Montanha onde mora a tarde.

Ó cisnes brancos, dolorida
Minh’alma sente dores novas.
Cheguei à terra prometida:
É um deserto cheio de covas.

Voai para outras risonhas plagas,
Cisnes brancos! Sede felizes...
Deixai-me só com as minhas chagas,
E só com as minhas cicatrizes.

Venham as aves agoireiras,
De risada que esfria os ossos...
Minh’alma, cheia de caveiras,
Está branca de padre-nossos.

Queimando a carne como brasas,
Venham as tentações daninhas,
Que eu lhes porei, bem sob asas,
A alma cheia de ladainhas.

Ó cisnes brancos, cisnes brancos,
Doce afago da alva plumagem!
Minh’alma morre aos solavancos
Nesta medonha carruagem...

Quando chegaste, os violoncelos
Que andam no ar cantaram no hinos.
Estrelaram-se todos os castelos,
E até nas nuvens repicaram sinos.

Foram-se as brancas horas sem rumo,
Tanto sonhadas! Ainda, ainda
Hoje os meus pobres versos perfumo
Com os beijos santos da tua vinda.

Quando te foste, estalaram cordas
Nos violoncelos e nas harpas...
E anjos disseram: — Não mais acordas,
Lírio nascido nas escarpas!

Sinos dobraram no céu e escuto
Dobres eternos na minha ermida.
E os pobres versos ainda hoje enluto
Com os beijos santos da despedida.

Alphonsus de Guimaraens


Afonso Henriques da Costa Guimaraens ou Alphonsus de Guimaraens, nasceu em Ouro Preto, Minas Gerais, no dia 24 de julho de 1870 e faleceu em Mariana, Minas Gerais, no dia 15 de julho de 1921. Foi um dos maiores poetas simbolistas brasileiros. Era conhecido como "o solitário de Mariana". Místico, católico, Alphonsus escreveu verdadeiras obras-primas na poesia brasileira.

Obs: a postagem foi feita em homenagem ao grande escritor acima citado, não é criação minha (claro), porém o objetivo do blog traz em seus significados expor grandes personalidades da literatura; divulgar as pétalas aladas que percorreram luares de grandes ouvires! ^^

"Cogito, ergo sum"