sábado, 24 de novembro de 2012

Aos Tolos,

  
  Quando as pessoas fatigarem teu peito de sentir...e veres então que nada te cerca, a não ser esse teu amor exagerado...Que caia a mais pura lágrima...a mais doce subversão...
  Quando a dor do amor não encontrar consolo no teu pranto, então tua voz calará os teus olhos baixos, e tu pensarás em jamais amar de novo qualquer criatura a não ser a si mesmo. Teu peito ofegante pela cólera, tomado por mais um desses teus sentires, explodirá em mil rosas...Tão raras e puras, derramando orvalho, como lágrimas pela solidão do não cultivado...
  E então estarás sozinho. Pronto para recomeçar a existência sem afeto qualquer...Teus passos não deixarão rastros e teu olhar não será entregue...Tu serás semente de si.
  Mas quando contemplares a primeira flor a beira do caminho, entre pedras sufocada, então tu compreenderás...Que a tua existência, doída de tanto sentir, é como uma flor a beira da estrada: esmagada pelas pedras, mas ainda sim, banhada de encanto e leveza capazes de fazer teu peito suspirar novamente...
-É quando vejo pequenos brotos despontando de dentro de ti...

terça-feira, 20 de novembro de 2012

  

 Saudade é como um copo meio vazio (ou meio cheio?), porque ela só existe se houver algum tipo de presença. É a contradição em si mesma: da presença que desvelou a ausência; da alegria que cominou na dor.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Fugere Urbem

 
     Navegando em um barco, com os remos sobre o asfalto, paro sobre o crepitar de um sinal fechado. A encruzilhada na espreita, olhos postos sobre mim...E paro para olhar a Lua, um só instante, no céu cheio de luzes de postes.
     Sigo reto, com medo das esquinas: é nas esquinas das ruas que toco o limiar entre o sim ou o não. Remo mais um pouco, olhos abatidos, olhos para os lados...Tantos barcos sem remo, tantos pescadores sem barco, tantos remos quebrados, tantos olhos cansados...Como se cada alma caminhasse para o vazio...Como se tudo pertencesse a um buraco cinza, de concreto, onde não há dor...ou refúgio.
   Meus braços fraquejam, teimam em tremer vagarosamente...Como se até o cansaço soasse mórbido. Como se cada força, cada luz que não fosse artificial, fosse sugada para o buraco de concreto. Como cadáveres vivos, caminhamos todos sempre na mesma direção, sem olhar para a esquina, sem parar: olhos fixos, corpo rígido, sorrisos falsos para os lados. Já não há mais máscaras: é carne nua que sorri como robô.   
   O sinal desfigura-se em verde fosco. Barcos outros movem-se, movem-se, movem-se...Como  se buscassem a si mesmos. Meus olhos tremem, por um instante, ao olhar para a esquina...E sinto um leve toque no rosto, acariciando a pele sem cor, fechando os olhos que há muito não fechavam, farfalhando umidade sobre meus lábios...era uma brisa.
   Então, por desespero ou necessidade, não se sabe se por um impulso qualquer, ou por razão desconhecida, meu corpo moveu-se, vagarosamente, dobrando a rua. Olhei para os outros, que permaneciam em frente. Quis voltar mas não pude; meus músculos pareciam quebrar com o esforço, meu corpo queria descansar mas não sabia. Sozinha em mais uma rua, olhei para a Lua. E vi que já não haviam luzes de postes.
     Senti algo bater: Tum-tum, tum-tum, tum-tum, tum-tum...O QUE É? QUEM ESTÁ AI? Tum-tum, tum-tum, tum-tum, tum-tum...SAIA, SAIA! DEIXE-ME EM PAZ! Tum-tum, tum-tum, tum-tum...Remei desesperadamente, mas o barulho me perseguia...Senti minhas mãos sufocando os remos, meu barco riscando o asfalto, meu suor escorrendo...Suor? O que era isso? Minha boca se contorcia em algo disforme, o que seria? E que barulho? E que esquina?Onde estão os postes? Ou estou e..
      Foi então que meu barco calou, suavemente. Meus braços já não precisavam mais remar. Meu corpo foi jogado para trás e entendi que aquilo era descansar: quando abri os olhos e vi o céu cheio de pontos de luz olhando para mim; e a Lua, bem no meio, branca e singela. Foi naquele instante que compreendi que estava viva..que meu coração ainda batia dentro do peito..Foi quando um sorriso (ah, um sorriso!) se desenhou em linhas completas no rosto cercado de carícias do vento. Foi quando meus ouvidos puderam ouvir um balanço crescente que envolvia meu barco, batendo na madeira lentamente...Foi quando pude levantar meu olhar  e avistar o infinito azul em que agora eu navegava...
     O Mar...!
   

segunda-feira, 19 de março de 2012

Versos Frágeis


Quando a eternidade não tocar mais seus pés no chão
Quando esse mar de muro trespassar meus calafrios
Quando então meus pés alçarem voo
Quando então minha mente jorrar fogo

-é teu toque,

Se meus cílios baterem sem cessar
Se o peito canta suave feito jardim
Se tua face derrama tua alma

-é teu olhar,

Se meu sopro foge da minha dor,
Se tuas mãos desabrocharem em flor,
Onde meus sentidos surdos desconhecem...

-é teu cantar,

E quando já não houverem frases,
Onde não se perfizerem formas,
Se o tudo mais se transfigurar em pó..

-é tua loucura
(e minha)

Porque não vejo mais o horizonte,
Não vejo contornos...
Não há linha alguma...!

E o pleno existe...
Assim como chuva fria que enxarca o rosto,
Assim como gargalhar por ter orgulho da inocência,
Assim como sonhar que pode voar,
Assim como a liberdade da simplicidade,
Assim como espíritos que amam.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Mares Doces


"Falar muito e dizer pouco.
-Uma palavra é uma coisa dura só sentimento pode libertar-"

E se os pássaros dentro de mim não gritarem, não os condene. E sim os aceite. Porque gritos são expressões do áspero exagero...Eu não preciso gritar nada, só quero que você sinta. Sinta o frescor dos suspiros, o toque e a  completude de um olhar...Tão leves e majestosos como um grito jamais será.
E não te queixes dos nossos sussurros internos...
Sinta. 
E quando chegares ao sentido vasto, ao âmago da intensidade sem revestimentos de onisciência ou imprecisão...Quando enfim alcançares os escombros por debaixo dessa carcaça de dor, e vires o trespassar de pequenas luzes lunares alcançando sua vista cansada e condicionada ao escuro...
Então cale.
Cale porque palavras são meros símbolos da impotência humana. Tentativas repetitivas de consumir o inexpressivo. E eu quero que sejamos livres dessa prisão de sentidos inexistentes, formulados repetidas e repetidas vezes pelos vazios da descrição concreta. Eu quero a poesia sem sentido.
Renda-se a doce leveza de um mar salgado.
As incógnitas imperfeitas do sentir que se encaixam na completude de dois.
Mata tua sede com o olhar.

"Um jeito, um gesto, um golpe de ternura
E a vida volta logo pro lugar..."

"Cogito, ergo sum"