quarta-feira, 10 de agosto de 2011

  
  O céu está cheio de ninhos. Pássaros perdidos, que navegam errantes por entre nuvens agridoces. Vidas que rastejam, presas ao chão, observam a vida acima de suas cabeças. E as amam.
  Tolo céu, ri pre-gui-ço-sa-men-te. Tiras de madeira barram um caminho qualquer... Enquanto observo que, abaixo do céu, estás tu ( tão perto).
  E rio, como louca, boba de amor. E amo, exageradamente, tudo que a ti toca. E amo, exageradamente, tudo que de ti emana. E amo, exageradamente, a ignorância ingênua da infância. E não durmo (acelerada).
  E quando acordo, já não mais te vejo. Só sinto a poeira do tempo que preenche minha alma, que nem mesmo o sopro do cotidiano -distante- conseguiu apagar.
  E vivo, perdida no espaço vil da saudade. E me encontro, nas lembranças bucólicas de um tempo fugaz....Esbarro na existência, cega que estou, e torno a amar-te mais e mais.
  E ouço as badaladas do tempo, que soaram durante tantas noites em meus ouvidos cansados... Tic...Tac...Tic...Tac...
  E quando hoje olho no espelho, já não me acho. Meus cacos caídos, nesses labirintos de efemeridade, não mais me pertencem.
  E choro.
  Meu amor foi mistério contente. Pássaro com cheiro de mar, que minha alma zelou durante tanto tempo.   
 -E nos guardo, sobre uma redoma de vidro, intactos.
   Mortos.

sábado, 6 de agosto de 2011

Nossa amizade é como um canteiro...


 
  Duas flores de aparente alegria e mortal solidão encontraram-se no canteiro, a balançar silenciosamente com o vento da existência. Os sóis as alegravam, acalentavam como chuva fina de calor afeto. E quando fitaram a mesma borboleta, de asas azul escuro a semelhança da noite, conheceram-se.
   Não se dependiam. Não estavam vitalmente destinadas. Eram irmãs de alma. Mas não se pareciam. Uma possuía alva face, de tenra expressão, com pétalas brancas, leves como seu aparente espírito, inundado de misteriosa meiguice. Outra, de pétalas azuladas, inspirava reflexos de risos alaranjados, iluminados por um exagero qualquer particular.
   Encontraram-se. Riram, riram, riram. Viram-se como espelho quebrado, que mesmo disforme mantêm sua essência de tão somente refletir. Bebiam da mesma água jogada sobre o canteiro, sorriam os mesmos dias todos os sabores cotidianos, e cresceram; cresceram suas pétalas, suas folhas, e suas almas.
   Encontraram-se. Choraram, choraram. E quando o orvalho teimava em não secar com os reflexos solares, elas mesmas eram sol. Uma da outra. E se mesmo assim, suas pétalas insistissem em chorar, lhes eram Lua. Uma da outra.
   Eram irmãs de alma. Possuíam em seus cílios lilás qualquer pedaço de si própria, mas que também pertencia a outra. Não haveriam mais disfarces, incompletudes ou mistérios. Somente luz clara, fosse branca ou azul, mediante o (muitas vezes) fardo da existência.
   Olharam para o céu e viram o mundo. Pois brotos já não eram, e sim flores, branca e azul, a despontar eternamente....
   - Na eternidade da juventude.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

- Nosso suor sagrado...É bem mais belo que esse sangue amargo!



  Desvela-se com ranhuras pulsantes, ao longo do punhal cravado, agonizante, que sangra e sangra, velado de ódio.
   Sangue transborda por todas as extremidades côncavas, como cadáveres de guerra espalhados, inertes. Sugando a vida pela decomposição.
   E cicatrizes se espalham, mas não contendo a ferida cruciante; esperando somente a morte, para atenuar a dor.
   Então desfaço-me, consumida e entregue ao torpor da inexistência. Por que de que me vale viver a carregar o fardo da dor?
   E assim preparo seu túmulo, enfaixando-o com espinhos, enterro-o ainda pulsante. Recubro-o de pedras e pedras, para que a frieza e dureza dessas penetre na tua essência.
   E agora rezo. Rezo para que tua morte me faça feliz. Rezo para que te tornes tão gélido e pérfido quanto desejo. Rezo e choro pelo último instante, pela tua morte infeliz.
   Jogo aquela flor seca pelo tempo de traição e amargura sobre teu jazigo de pedra, teu novo lar. E me permito chorar uma vez mais,
   - Adeus, coração.

Ruas



Que nessas linhas torpes consuma-se
O Adeus perfeito e imortal
Da existência (incompleta)

De uma esquina qualquer, não mais te aceno
Nem olho-te
só sinto tua presença (gélida)

E todos os loucos riem ao espetáculo
Balançam suas bocas nervosas
E engasgam-se (agonizantes)

Enquanto meus passos soam calados
E as ruas atravessam mórbidas
Sei que teu olhar me persegue (morto)

A vida ou a morte chegam na encruzilhada
E torno a olhar para trás...
Enxergo os destroços de uma guerra antiga
E jogo-me (Morta)

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Qualquer coisa do dia 11 de julho





“ -Relacionamentos são podres do início ao fim -garantiu Katherine com frieza. 
-Não necessariamente....-falou Tara, apressada, e chegou a abrir a boca para dizer “Olha só o meu caso com Thomas, veja como estamos numa boa“, mas descobriu que não conseguiria falar tal coisa.
-Estou perfeitamente bem por conta própria -garantiu Katherine, com o rosto rígido como pedra -estar sozinha não significa sentir-se solitária.
-Você não pode desviar disso pra sempre - reagiu Tara, exasperada. Apaixonar-se faz parte da condição humana, Sem isso você só vive pela metade, todos precisam de alguém como parceiro. É uma necessidade humana básica.
-Não é uma necessidade -disse Katherine- é um desejo, E o que eu mais desejo nesse momento, mais do que alguém com quem disputar quem gosta mais de quem, é ausência de dor. Apaixonar-se deixa a pessoa aberta, e relacionamentos só trazem sofrimento.
-Relacionamentos não representam apenas sofrimento -protestou Tara,alarmada diante da intransigência de Katherine Ela parecia ainda mais entricheirada em suas idéias, desde a última vez que haviam discutido o assunto.
-Quer dizer que relacionamentos não significam sofrimento? -interrompeu Katherine- Quem é você pra dizer uma coisa dessas? (...)


(É Agora ou Nunca, págs 142 e 143)


    Esse é só mais um daqueles livros de pré-adultas, entre seus 17 e 19 anos, que apresenta a vida de algumas mulheres, amigas, a partir da ótica de um narrador onisciente. Não é um livro extremamente surpreendente, apesar de eu ter gostado da vida percebida com a proximidade da morte de um amigo. Na verdade, não é algo inesperado, ou que acrescente deveras conhecimento. Mas gostei dese trecho. Gostei mesmo. Cheguei a torcer durante boa parte do livro, para que Katherine de fato, ficasse só. Torci para que ela não se rendesse aos riscos das teias emaranhadas dos relacionamentos Torci ferozmente para que ela fosse feliz solitária. Ando tão sensível que até um livro qualquer me atinge, como um corte feito a faca, lentamente, machucando ainda mais a ferida de um punhal antigo, que ainda sangra de vez em quando. Mas isso não importa. O que me tocou a escrever essas inutilidades foi Katherine Uma jovem de beleza doce, mas não espetacular, com um bom emprego, vida estável, que se fechara a relacionamentos amorosos. Torci para que ela me comprovasse o quão destrutivo é o amor. Quase implorei a ela que me mostrasse que era feliz, e ainda só o seria. Mas compreendi que não há muitos o que esperar de livros assim, a não ser o final clichê, de todos juntos com seus devidos pares, felizes e bebendo. Katehrine foi feliz com Joe.
    O engraçado a se contar, é que em uma das reviravoltas das 588 páginas do livro, Katherine se encontrava na eminência de trair Joe, com seu primeiro (e altamente destrutivo) amor. É bobo de se dizer, mas a inquietude me preencheu de forma desesperadora. Novamente implorei para Katherine que me disesse que relacionamentos dãop certo. Que ainda havia sentido em entregar a um pouco do seu ser a alguém Que existe alguma coisa que faça valer a pena ser leal.


“ Uma sequencia de cenas começou a passar diante de seus olhos. A noite em que ela e Joe haviam tentado preparar um jantar caseiro a partir do zero, no apartamento dele, e quase colocaram fogo na cozinha; a quantidade de horas que Joe dedicou a Fintan, sem reclamar; as quedas de braço que ele sempre deixava ela ganhar; as várias vezes que ele gravou Ally McBeal da tevê sem precisar que ela pedisse; o dia em que ele comrpou um batom quase da cor exata que ela queria; sua insistência em tentar consertar o carro dela, que engriçara pela enésima vez; sua aceitação incondicional, quando ela conseguira contar tudo a respeito do seu pai; o companheirismo que havia entre eles e que era fabuloso. Katherine lembrou, por sua vez, do seu esforço em consolar Joe no dia em que o Arsenal perdeu de cinzo a zero para o Chelsea; o par de meias com estampa Wallace & Gromit que ela comprara para ele, porque as velhas estavam furadas; o pote de chocolate com avelãs que ela catara por toda a cidade e deixara no armário da cozinha, porque ele uma vez mencionara que adorava; o tempo e o esforço que ela gastara para aprender como funcionava a contagem de pontos para os times da primeira divisão do campeonato, só porque achou que isso ia agradá-lo; o jeito dela não se importar quando Joe mostrava-se incapaz de consertar o carro e ela acabava tendo que levá-lo ppara Lionel, o mecâncio, que dizia que Joe havia piorado as coisas.
(...)
E pensar que estivera a ponto de atirar tudo aquilo pela janela por um homem que a descartaria com a maior facilidade.


    Lembrei de uma conversa com um grande amigo, que havia me explicado na ocasião o que fazia alguém não trair seu companheiro. E era isso, de fato. Exatamente isso.
    No fim, a vida é feita de escolhas, atitudes diárias que reverberão em consequências, algum dia. E eu sei que o que eu escrevo hoje é óbvio e desinteressante. Mas não me importa. Katherine Casey não traiu Joe Roth. Amar ainda era possível.  Talvez.

"Cogito, ergo sum"