domingo, 20 de março de 2011

A imensidão da Loucura



E assim caminhavam, passos abertos, leves; com um sabor qualquer de compromisso nenhum. Caminhavam levemente inclinados, com um quê de timidez e intimidade. Na imensidão se encontraram, de mãos dadas e rubores enfeitados, levados pelo extenso vazio, perdidos em um só caminho. Para onde iriam? Para o tempo.
Ela então tirou uma rosa, aquela mesma que cegara seu coração, e a entregou ao amado. Ele, já em fim de tarde, enrusbeceu mais ainda seus reflexos de fogo. Ela, impulsiva e inconseqüente, quis voar antes do anoitecer, na certeza de que perder-se nele seria seu egoísmo mais altruísta.
E assim voaram, sobre abismos e mares, sobre constelações e cometas, sobre o infinito não mais secreto. Perderam-se e encontraram-se novamente, sempre de mãos dadas com o luar; fiel escudeiro dos amantes. Viram o tudo e do tudo viveram, na eterna inconstância do querer.
Amanheceu, porém, e assim voltaram ou permaneceram, nunca quietos, mas com uma inquietude diferente. Ela, sem limites, incontrolável dama, guia do amor, já não mais sentia sua mãos segurá-lo. Agora sentia que as mãos dele[amor, aquela que ela prometera guiar], cegas e inconstantes, permeavam caminhos irresistíveis. Ele, tão sóbrio e sereno, já não sabia conter a completude que preenchia cada espaço do seu infinito.
Porém os dois não compreendiam. Não se atavam a compreender, não se sabe se por preguiça ou por paixão, talvez por falta de razão.
O que importa, é que a rosa nunca murchou; assim como cada pétala, cada vez mais cega, que veio depois. Pois desde aquele entardecer coberto de pétalas de fogo, a loucura e o céu nunca mais deixaram de passear sobre seus infinitos particulares, a cada minuto de sua existência eterna.
E quando veres a loucura a bailar com o céu, descobrirás porque nele ela encontrou seu limite.

"Cogito, ergo sum"