segunda-feira, 23 de maio de 2011

Bilhete Des(encontrado)

  Encontraram-se de novo. Todos os dias. Riram-se, viram-se, sentiram-se...no ar. Com o simples fulgor do hálito ou o calor de um movimento; um toque ao léu ou um suspiro desconcertado. Moviam-se como bailarinos da existência, suavemente envolvidos pelo encontro, movimento. Perdiam-se.
  Viver era encontrar somente. Ao acaso ou não, tanto fazia, se o céu era nublado, se o sol envolvia brilhante seus raios, ou se a chuva tocava seus rostos...Não os importava o frio da rotina ou o sublime do acaso. Encontravam-se somente. E isso bastava.
  Não se amavam. Viviam do gosto de viver o encontro do nada, ou do ser. Viviam do instante, do destino diário, errante, vil e imenso. Quente.
  E o desencontro? O desencontro era ameaça. Possibilidade, tormento eterno. O que seriam sem o outro? O que viveriam? Nada. Suas vidas resumiam-se, desgastavam-se, viciados que eram, consumiam-se pelo encontro. Seus corpos pediam como animais, seu cerne impaciente, ansiava por encontrar. Do tudo efêmero viviam, do instante perdido onde o ser não era material, e sim coadjuvaste.Só.
  Não se amavam. Olhavam-se. Idolatravam-se aos olhos do outro. Amavam-se. Encontrar-se resumia-se ao instante minúsculo onde suas pálpebras encaixavam-se no ar, trêmulas. Onde seus cílios vibravam na mesma intensidade, e seus olhos regozijavam-se de viver. O corpo era instrumento da janela do ser, seus membros, paralisados, torpes mortos diante do imenso do encontro de olhares. Era assim, todos os dias, mal sabiam que o ver (viver) era aquele momento.
  Quando não se encontraram? Morreram, só.

"Cogito, ergo sum"