terça-feira, 15 de novembro de 2011

Devaneios de Melancolia


Sabe que eu queria ouvir tudo que se passa pelo seu olhar naquele momento? E queria ter certeza que é tudo verdade; daquelas verdades que não acabam...E eu acho que é por isso que você não fala, porque no fundo você tem medo também.
Então eu abro o guarda chuva, mesmo fazendo sol, e sorrio para o tempo, pedindo clemência.

Ele me olha, gentilmente irônico, e me fala que flores secas jamais renascem...é necessário plantar um novo jardim.

Então pego adubo e girassóis, dançando sobre o frescor do presente. E canto baixinho uma canção antiga que ainda faz o peito palpitar feito passarinho aprendendo a voar. O vento vem beijar-me -atrevido!- e torno a gargalhar com o suspirar das pétalas.

Agora tempo, olho baixinho como quem quer pedir muito, não mande tempestades sobre o jardim que já floresce...E cruzo as mãos, como por medo ou timidez; -não afogue brotos, não sufoque a glória do nascer!!

E ele, com ar sério, diz que flores secas jamais renascem...

Então reluto, ainda chorosa, -e quem as secaria se não tu??
e ele diz, olhando como quem fala para quem muito pouco conhece: não há quem sufoque, com secas ou dilúvios, mais do que tua própria alma...Eu sou senhor do feito e do não feito. Consequência do concreto. Zela do teu jardim...e eu te digo: não será tarefa fácil. E quando o concreto não possuir mais abstrato eu exalarei o perfume da renovação.

E então eu ri, com esperança calada. Depois guardei o riso para desfrutar com meu jardim a minha prosa com o tempo.



































ps: sabe que eu sempre sonhei ter um jardim secreto?

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Bilhete de fim


E se a vida te parecer cíclica
Em redemoinhos de erros mesmos
Canta baixinho essa esperança pouca
E prende no peito esse choro vão...
Guarda-o para quando chegares ao teu leito.
E quando chegares, derrama-te lentamente
Pensando que o futuro te cerca
Sobre prantos outros, prantos mesmos.
E que o tempo corre. Corre. Corre. Corre. Corre.
E eu te direi: levanta teus olhos.
E tu sorrirás pouquinho.
E eu te indagarei: Sentes o hoje?
E tu dirás: Sinto. E sinto o medo de amanhã.
E eu sorrirei pouquinho.
Fecha as janelas,
Pões, com pesar, tua mão sobre o peito,
E espera o fim.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Os passos te pertencem...


E dizem que a vida é mero fantoche do tempo,
-Pobres tolos...
e pobre tempo, o único que assumiu a culpa do mundo pela sua própria imaterialidade.
Dizem que em um espetáculo a marcação dos passos é essencial,
mas no fim, são os atores quem emocionam (ou não).

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

  
  O céu está cheio de ninhos. Pássaros perdidos, que navegam errantes por entre nuvens agridoces. Vidas que rastejam, presas ao chão, observam a vida acima de suas cabeças. E as amam.
  Tolo céu, ri pre-gui-ço-sa-men-te. Tiras de madeira barram um caminho qualquer... Enquanto observo que, abaixo do céu, estás tu ( tão perto).
  E rio, como louca, boba de amor. E amo, exageradamente, tudo que a ti toca. E amo, exageradamente, tudo que de ti emana. E amo, exageradamente, a ignorância ingênua da infância. E não durmo (acelerada).
  E quando acordo, já não mais te vejo. Só sinto a poeira do tempo que preenche minha alma, que nem mesmo o sopro do cotidiano -distante- conseguiu apagar.
  E vivo, perdida no espaço vil da saudade. E me encontro, nas lembranças bucólicas de um tempo fugaz....Esbarro na existência, cega que estou, e torno a amar-te mais e mais.
  E ouço as badaladas do tempo, que soaram durante tantas noites em meus ouvidos cansados... Tic...Tac...Tic...Tac...
  E quando hoje olho no espelho, já não me acho. Meus cacos caídos, nesses labirintos de efemeridade, não mais me pertencem.
  E choro.
  Meu amor foi mistério contente. Pássaro com cheiro de mar, que minha alma zelou durante tanto tempo.   
 -E nos guardo, sobre uma redoma de vidro, intactos.
   Mortos.

sábado, 6 de agosto de 2011

Nossa amizade é como um canteiro...


 
  Duas flores de aparente alegria e mortal solidão encontraram-se no canteiro, a balançar silenciosamente com o vento da existência. Os sóis as alegravam, acalentavam como chuva fina de calor afeto. E quando fitaram a mesma borboleta, de asas azul escuro a semelhança da noite, conheceram-se.
   Não se dependiam. Não estavam vitalmente destinadas. Eram irmãs de alma. Mas não se pareciam. Uma possuía alva face, de tenra expressão, com pétalas brancas, leves como seu aparente espírito, inundado de misteriosa meiguice. Outra, de pétalas azuladas, inspirava reflexos de risos alaranjados, iluminados por um exagero qualquer particular.
   Encontraram-se. Riram, riram, riram. Viram-se como espelho quebrado, que mesmo disforme mantêm sua essência de tão somente refletir. Bebiam da mesma água jogada sobre o canteiro, sorriam os mesmos dias todos os sabores cotidianos, e cresceram; cresceram suas pétalas, suas folhas, e suas almas.
   Encontraram-se. Choraram, choraram. E quando o orvalho teimava em não secar com os reflexos solares, elas mesmas eram sol. Uma da outra. E se mesmo assim, suas pétalas insistissem em chorar, lhes eram Lua. Uma da outra.
   Eram irmãs de alma. Possuíam em seus cílios lilás qualquer pedaço de si própria, mas que também pertencia a outra. Não haveriam mais disfarces, incompletudes ou mistérios. Somente luz clara, fosse branca ou azul, mediante o (muitas vezes) fardo da existência.
   Olharam para o céu e viram o mundo. Pois brotos já não eram, e sim flores, branca e azul, a despontar eternamente....
   - Na eternidade da juventude.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

- Nosso suor sagrado...É bem mais belo que esse sangue amargo!



  Desvela-se com ranhuras pulsantes, ao longo do punhal cravado, agonizante, que sangra e sangra, velado de ódio.
   Sangue transborda por todas as extremidades côncavas, como cadáveres de guerra espalhados, inertes. Sugando a vida pela decomposição.
   E cicatrizes se espalham, mas não contendo a ferida cruciante; esperando somente a morte, para atenuar a dor.
   Então desfaço-me, consumida e entregue ao torpor da inexistência. Por que de que me vale viver a carregar o fardo da dor?
   E assim preparo seu túmulo, enfaixando-o com espinhos, enterro-o ainda pulsante. Recubro-o de pedras e pedras, para que a frieza e dureza dessas penetre na tua essência.
   E agora rezo. Rezo para que tua morte me faça feliz. Rezo para que te tornes tão gélido e pérfido quanto desejo. Rezo e choro pelo último instante, pela tua morte infeliz.
   Jogo aquela flor seca pelo tempo de traição e amargura sobre teu jazigo de pedra, teu novo lar. E me permito chorar uma vez mais,
   - Adeus, coração.

Ruas



Que nessas linhas torpes consuma-se
O Adeus perfeito e imortal
Da existência (incompleta)

De uma esquina qualquer, não mais te aceno
Nem olho-te
só sinto tua presença (gélida)

E todos os loucos riem ao espetáculo
Balançam suas bocas nervosas
E engasgam-se (agonizantes)

Enquanto meus passos soam calados
E as ruas atravessam mórbidas
Sei que teu olhar me persegue (morto)

A vida ou a morte chegam na encruzilhada
E torno a olhar para trás...
Enxergo os destroços de uma guerra antiga
E jogo-me (Morta)

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Qualquer coisa do dia 11 de julho





“ -Relacionamentos são podres do início ao fim -garantiu Katherine com frieza. 
-Não necessariamente....-falou Tara, apressada, e chegou a abrir a boca para dizer “Olha só o meu caso com Thomas, veja como estamos numa boa“, mas descobriu que não conseguiria falar tal coisa.
-Estou perfeitamente bem por conta própria -garantiu Katherine, com o rosto rígido como pedra -estar sozinha não significa sentir-se solitária.
-Você não pode desviar disso pra sempre - reagiu Tara, exasperada. Apaixonar-se faz parte da condição humana, Sem isso você só vive pela metade, todos precisam de alguém como parceiro. É uma necessidade humana básica.
-Não é uma necessidade -disse Katherine- é um desejo, E o que eu mais desejo nesse momento, mais do que alguém com quem disputar quem gosta mais de quem, é ausência de dor. Apaixonar-se deixa a pessoa aberta, e relacionamentos só trazem sofrimento.
-Relacionamentos não representam apenas sofrimento -protestou Tara,alarmada diante da intransigência de Katherine Ela parecia ainda mais entricheirada em suas idéias, desde a última vez que haviam discutido o assunto.
-Quer dizer que relacionamentos não significam sofrimento? -interrompeu Katherine- Quem é você pra dizer uma coisa dessas? (...)


(É Agora ou Nunca, págs 142 e 143)


    Esse é só mais um daqueles livros de pré-adultas, entre seus 17 e 19 anos, que apresenta a vida de algumas mulheres, amigas, a partir da ótica de um narrador onisciente. Não é um livro extremamente surpreendente, apesar de eu ter gostado da vida percebida com a proximidade da morte de um amigo. Na verdade, não é algo inesperado, ou que acrescente deveras conhecimento. Mas gostei dese trecho. Gostei mesmo. Cheguei a torcer durante boa parte do livro, para que Katherine de fato, ficasse só. Torci para que ela não se rendesse aos riscos das teias emaranhadas dos relacionamentos Torci ferozmente para que ela fosse feliz solitária. Ando tão sensível que até um livro qualquer me atinge, como um corte feito a faca, lentamente, machucando ainda mais a ferida de um punhal antigo, que ainda sangra de vez em quando. Mas isso não importa. O que me tocou a escrever essas inutilidades foi Katherine Uma jovem de beleza doce, mas não espetacular, com um bom emprego, vida estável, que se fechara a relacionamentos amorosos. Torci para que ela me comprovasse o quão destrutivo é o amor. Quase implorei a ela que me mostrasse que era feliz, e ainda só o seria. Mas compreendi que não há muitos o que esperar de livros assim, a não ser o final clichê, de todos juntos com seus devidos pares, felizes e bebendo. Katehrine foi feliz com Joe.
    O engraçado a se contar, é que em uma das reviravoltas das 588 páginas do livro, Katherine se encontrava na eminência de trair Joe, com seu primeiro (e altamente destrutivo) amor. É bobo de se dizer, mas a inquietude me preencheu de forma desesperadora. Novamente implorei para Katherine que me disesse que relacionamentos dãop certo. Que ainda havia sentido em entregar a um pouco do seu ser a alguém Que existe alguma coisa que faça valer a pena ser leal.


“ Uma sequencia de cenas começou a passar diante de seus olhos. A noite em que ela e Joe haviam tentado preparar um jantar caseiro a partir do zero, no apartamento dele, e quase colocaram fogo na cozinha; a quantidade de horas que Joe dedicou a Fintan, sem reclamar; as quedas de braço que ele sempre deixava ela ganhar; as várias vezes que ele gravou Ally McBeal da tevê sem precisar que ela pedisse; o dia em que ele comrpou um batom quase da cor exata que ela queria; sua insistência em tentar consertar o carro dela, que engriçara pela enésima vez; sua aceitação incondicional, quando ela conseguira contar tudo a respeito do seu pai; o companheirismo que havia entre eles e que era fabuloso. Katherine lembrou, por sua vez, do seu esforço em consolar Joe no dia em que o Arsenal perdeu de cinzo a zero para o Chelsea; o par de meias com estampa Wallace & Gromit que ela comprara para ele, porque as velhas estavam furadas; o pote de chocolate com avelãs que ela catara por toda a cidade e deixara no armário da cozinha, porque ele uma vez mencionara que adorava; o tempo e o esforço que ela gastara para aprender como funcionava a contagem de pontos para os times da primeira divisão do campeonato, só porque achou que isso ia agradá-lo; o jeito dela não se importar quando Joe mostrava-se incapaz de consertar o carro e ela acabava tendo que levá-lo ppara Lionel, o mecâncio, que dizia que Joe havia piorado as coisas.
(...)
E pensar que estivera a ponto de atirar tudo aquilo pela janela por um homem que a descartaria com a maior facilidade.


    Lembrei de uma conversa com um grande amigo, que havia me explicado na ocasião o que fazia alguém não trair seu companheiro. E era isso, de fato. Exatamente isso.
    No fim, a vida é feita de escolhas, atitudes diárias que reverberão em consequências, algum dia. E eu sei que o que eu escrevo hoje é óbvio e desinteressante. Mas não me importa. Katherine Casey não traiu Joe Roth. Amar ainda era possível.  Talvez.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

De malas prontas para mim mesma!



-Porque há o direito ao grito. E eu grito.
Clarice Lispector


Gritarei longe, agora. Mas ainda sim, gritarei baixinho. Porque já gritei alto demais. E agora, já quase grito sorrindo...De novo sorrindo. Verdadeiramente, sorrindo.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Volte (in)sanidade...nem que por uma hora!



"I close my eyes
Only for a moment
And the moment's gone
(...)
Now, don't hang on
Nothing lasts forever 
But the earth and sky
It slips away
And all your money
Won't another minute buy
Dust in the wind
All we are is dust in the wind"
Dust In the Wind - Kansas

  E hoje eu sei. Sei que a vida é bonita demais pra se jogar assim. Sei que tudo que eu tenho e tudo que eu sou é maior que qualquer amor perdido. E que, pelo menos por essa hora, eu possa sorrir adoidada assim como nos velhos tempos. Que os novos tempos sejam tão doces e leves como o nosso fúnebre amor. Que tu morras, morras e morras, todos os dias e todos os dias, até que eu não precise mais lembrar que você precisa morrer.
  Que eu seja entregue as minhas impulsividades, aos meus caprichos românticos, as minhas manias agressivas, ao vento que sopra essa vida que corre e corre louca, assim como eu. Que eu ria, ria, ria, escandalosamente, escancarando essa dor vazia pela completude da felicidade.
   Porque o mar ainda corre, lento e agressivo, pelas minhas veias tristes. Porque a vida sempre foi bela, e continua sendo, só que agora de uma maneira diferente. Sem você. E assim será pelo resto dos meus dias, porque essa essência lilás que me torneia, não vibrará diferente por um luto qualquer. Morras, morras, morras!!! Desejo ardentemente que eu viva, e viva todos os dias como um pássaro livre, tolo, e cheio desse espírito infantil!! Tão infantil como todos os sorrisos que ainda me aguardam, como todas as vidas que ainda me esperam, como tudo que me promete o futuro, que me possui, assim como cada lágrima que escorre agora.
   Desejo meus cabelos ao vento, minha vida sutil, e doce, doce, doce!!! Vás, vás!! Deixe-me feliz, deixe-me comigo, não sozinha, porque sozinha eu nunca estarei. Desejo que cada pedaço do meu corpo esteja entregue a esse vento veloz, tão veloz que não permite que o hoje seja desperdiçado com tormentos passageiros. Quero estar feliz, de novo feliz.
   E que a minha alma seja preenchida por uma lua alaranjada, com gosto de chocolate com os amigos. Porque agora, eu sei. Sei que você não é quem eu quero. Nem sei quem é você. Mas sei quem eu sou, e isso me importa. ME BASTA!!!
   Convence-me agora!!! Convence-me que me basto, que sou feliz, que preciso ser feliz de novo!! Eu MEREÇO! Livra-me dessas algemas, VÁ EMBORA, VÁ!! Não te quero mais em minha casa, não te quero mais na minha vida! Morra, infeliz!! Não sabe o que é felicidade, talvez nunca saberá...
   E já chega. Chega desse tormento. Chega. Sou mulher, intensa, intensa. E isso me basta.Que venham todos os meus movimentos de volta, que venha minha alegria boba, cheguem meus pulos risonhos!! Entrem, entrem meus caros amigos!! Que tudo que tu me tomaste volte, assim como meus gatos gordos, que me pertencem(meus livros, meus filmes, meus lugares, minha VIDA -devolve-me agora).
   Porque eu não vou mais te permitir nada. Já sofri demais. E agora eu entendo que essa dor vai passar, apesar de inevitável. VAI PASSAR. E que pelo menos por esse minuto de sanidade, eu saiba que sou feliz. E sem você.

-"Consegui meu equilíbrio cortejando a insanidade" Renato Russo
  

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Aqui jaz tu....Até a próxima hora.

   

Meu Imortal

(tradução My Immortal - Evanescence)

Estou tão cansada de estar aqui
Reprimida por todos meus medos infantis
E se você tiver que ir, eu desejo que vá logo
Porque sua presença ainda permanece aqui, e isso não vai me deixar em paz


Essas feridas parecem não cicatrizar
Essa dor é tão real
Existem muitas coisas que o tempo não pode apagar


Quando você chorou, eu enxuguei todas as suas lágrimas
Quando você gritou, eu lutei contra todos os seus medos
E segurei sua mão por todos estes anos
Mas você ainda tem tudo de mim


Você costumava me cativar com sua luz ressonante
Agora sou limitada pela vida que você deixou pra trás
Seu rosto assombra todos os meus sonhos que já foram agradáveis
Sua voz expulsou toda a sanidade que havia em mim

Essas feridas parecem não cicatrizar
Essa dor é tão real
Existem muitas coisas que o tempo não pode apagar

Quando você chorou, eu enxuguei todas as suas lágrimas
Quando você gritou, eu lutei contra todos os seus medos
E segurei sua mão todos estes anos
Mas você ainda tem tudo de mim.

Eu tentei com todas as forças dizer à mim mesma que você se foi
E embora você ainda esteja comigo
Eu tenho estado sozinha por todo esse tempo

Quando você chorou, eu enxuguei todas as suas lágrimas
Quando você gritou, eu lutei contra todos os seus medos
E segurei a sua mão todos estes anos
Mas você ainda tem tudo de mim.



     O calor das horas passa e passa, sufocante. Me acorda? É tudo que eu te peço, diante de tudo que te dei...Acorda-me. Só quero ter a certeza de que tudo isso não passou de um sonho ruim.  Só queria acordar e ter a certeza de que ainda terei sua presença, ainda teria você, ainda seria sua. Nunca soube tanto sobre mim e sobre o outro. Nunca me passou que eu te amava como jamais havia o feito. Meu anjo... Eu trocaria um dia da minha vida só pra ter seu rosto junto ao meu novamente. Só pra sentir seus lábios, nem que pela última vez. Eu viveria mais um dia só pra sentir os seus defeitos comigo de novo. Porque nunca houveram idealizações sobre você, meu amor. O seu torto sempre me encantou. Assim como estrelas pálidas, um tanto quanto cinza-azuladas, que eu só via nos seus olhos. Eu te amo. E te amo não por sentir desesperadamente sua falta, mas por assim preferi-lo do que vê-lo sofrer. Eu saberia exatamente aonde te machucar...E não o faço, não por bondade, mas sim por egoísmo. O teu bem é o meu bem. Essa dor qualquer que me consome agora, de nada valeria se não fosse por você. Amar nunca foi questão de merecer...E tudo é tão claro pra mim agora. É quase como sangue jorrando, vermelho, intenso e mórbido aos meus olhos molhados.
    Lembro-me daquelas horas quentes e singelas, sobre bancos quaisquer, que rondaram nossas tardes. Lembro também das manias tolas, dos sonhos vãos, e do calor do seu hálito. Não sinto por você o muito, o mito. Não me lembro de momentos extraordinários ou imensuráveis. Pois o que eu sinto são as miudezas do seu ser. Um toque na nuca, um abraço de encontro, um beijo despropositado, seu andar desajeitado, como quem tem pressa de viver, a voz desafinada, o rosto...tão angelical.


"Tem uma felicidade mansa por dentro, devagarinho. A casa bonita. Os dias bonitos. A roseira bonita. (...) Guardo meu amor por dentro. É precioso."

(Caio Fernando Abreu)


    As vezes penso que se não te conhecesse tão bem seria mais fácil. Se não soubesse do teu egoísmo e da tua frieza. Se não ouvisse suas reclamações diárias. Se não sentisse a necessidade de saber como você está, se ainda é feliz (ou se era feliz). Te pergunto, todos os dias: Por que? Canso e canso de repetir e repetir, POR QUE? Racionalmente te explico, me explico, rastejo-me aos pés da minha mente cansada em busca de um consolo qualquer. Mas não me basta... Não me basta porque tudo sempre foi tão nosso. E por cada lugar que eu ando, só vejo e sinto nossos espíritos banhando as lembranças, impregnadas na minha alma. Como posso te esquecer assim? Não posso, meu amor. Não há como ignorar essa dor que lateja todos os dias, todas as horas. Dói assim como respiro.
     E me custa entender a minha fraqueza...Mas a tristeza já me consome demais. Não tenho porque entender nada. Só me resta sentir essa dor e esperar, meses, anos, ou a eternidade, até que ela se consuma e consuma, nos restos dos restos e restos. A dor que seca meus olhos, há de secar também meu coração. E nada disso me consola. Porque de que me vale, se não tenho mais você? Tenho medo de não sentir os detalhes de novo. Tenho medo de só amar uma única vez, assim, nessas linhas errantes e tristes da vida. E me surpreendem essas nuances pendulares do mundo e das coisas, aonde se tem tudo em um momento, e no outro não resta mais nada. Você não era tudo, meu amor. Mas era demais, tanto mais quanto eu nunca imaginei ou soube. Agora eu entendo todos os saberes populares, que dizem sobre perda, amor ou qualquer coisa assim.
     Mas nada que eu diga vai amenizar, aliviar, encobrir ou mascarar o que eu sinto. Só suporto. Espero o tal do tempo passar. E ainda escreverei, todos os dias e nas próximas horas, sobre o quem tu fostes e em que me tornastes. E assim são os meus dias desde de que você se foi, frio e indolente, partiu como quem não tem nada a deixar. Eu olhei para trás...Só peço a Deus que me levante desse pesadelo. Só peço a Deus para não me perder nesse escombro que se tornou meu coração. Só peço a Deus que te mate logo de  uma vez dentro de mim, para que a tua morte dê lugar a uma nova vida. Recomeçarei, um dia, quem sabe novamente, aqui.
     Aqui jaz tu, Vida.

"Nossa História, não estará pelo avesso assim sem final feliz...
Teremos coisas bonitas pra contar...
E até lá, vamos viver, temos muito ainda por fazer
Não olhe pra trás, apenas começamos..."
(Legião Urbana - Metal contra as nuvens)

"De longe te hei de amar- da tranquila distância em que o amor é saudade e o desejo, constância"  (Cecília Meireles)

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Conjunções



  Ela tinha medo da noite. Agora tinha, mas antes não. Tinha medo da escuridão que brotava de si mesma, pálida e arroxeada. Tinha medo do vazio que a preenchia, diariamente, pelos achados vividos, ou não, que se passaram pela existência, vaga, quase vã. Tinha medo também dessa solidão qualquer que se perfazia mórbida, persistente e clara sobre seus olhos castanhos. Tinha medo de viver a noite na noite.
  Ela tinha medo do que aconteceria, tinha medo do que acontecera, tinha medo do que acontecia. Ela sentia seus pés tocando o chão, esvaindo-se, com todo o seu corpo a cair em uma abismo, negro, que lhe agradava de tão claro quanto parecia.
  Ela tinha medo do ciclo de tudo e de todos. A ela parecia que o começo se reiniciava no fim, sempre da mesma forma, repetindo-se como notas perdidas em uma vitrola quebrada. Tinha medo e não lhe bastava isso, mas só isso a pertencia.
  O que faria? Sentiria medo. Medo de só ter medo, medo de ter mais medos. Medo do próprio medo. E diante do pó que abismava sua mente, perfez leves caminhos de glória, e descobriu: ainda tinha a si mesma.
  E a noite? A noite abriria seu lunar, que aos poucos abrigaria todos os medos, como uma mãe a espera da criança sedenta de alimento. Medo tinha a noite de perder-se sem ela. Mas ela, agora, não tinha mais a noite. A noite era ela.
( E mesmo com medo de si mesma, ela não queria ser só..)

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Bilhete Des(encontrado)

  Encontraram-se de novo. Todos os dias. Riram-se, viram-se, sentiram-se...no ar. Com o simples fulgor do hálito ou o calor de um movimento; um toque ao léu ou um suspiro desconcertado. Moviam-se como bailarinos da existência, suavemente envolvidos pelo encontro, movimento. Perdiam-se.
  Viver era encontrar somente. Ao acaso ou não, tanto fazia, se o céu era nublado, se o sol envolvia brilhante seus raios, ou se a chuva tocava seus rostos...Não os importava o frio da rotina ou o sublime do acaso. Encontravam-se somente. E isso bastava.
  Não se amavam. Viviam do gosto de viver o encontro do nada, ou do ser. Viviam do instante, do destino diário, errante, vil e imenso. Quente.
  E o desencontro? O desencontro era ameaça. Possibilidade, tormento eterno. O que seriam sem o outro? O que viveriam? Nada. Suas vidas resumiam-se, desgastavam-se, viciados que eram, consumiam-se pelo encontro. Seus corpos pediam como animais, seu cerne impaciente, ansiava por encontrar. Do tudo efêmero viviam, do instante perdido onde o ser não era material, e sim coadjuvaste.Só.
  Não se amavam. Olhavam-se. Idolatravam-se aos olhos do outro. Amavam-se. Encontrar-se resumia-se ao instante minúsculo onde suas pálpebras encaixavam-se no ar, trêmulas. Onde seus cílios vibravam na mesma intensidade, e seus olhos regozijavam-se de viver. O corpo era instrumento da janela do ser, seus membros, paralisados, torpes mortos diante do imenso do encontro de olhares. Era assim, todos os dias, mal sabiam que o ver (viver) era aquele momento.
  Quando não se encontraram? Morreram, só.

domingo, 20 de março de 2011

A imensidão da Loucura



E assim caminhavam, passos abertos, leves; com um sabor qualquer de compromisso nenhum. Caminhavam levemente inclinados, com um quê de timidez e intimidade. Na imensidão se encontraram, de mãos dadas e rubores enfeitados, levados pelo extenso vazio, perdidos em um só caminho. Para onde iriam? Para o tempo.
Ela então tirou uma rosa, aquela mesma que cegara seu coração, e a entregou ao amado. Ele, já em fim de tarde, enrusbeceu mais ainda seus reflexos de fogo. Ela, impulsiva e inconseqüente, quis voar antes do anoitecer, na certeza de que perder-se nele seria seu egoísmo mais altruísta.
E assim voaram, sobre abismos e mares, sobre constelações e cometas, sobre o infinito não mais secreto. Perderam-se e encontraram-se novamente, sempre de mãos dadas com o luar; fiel escudeiro dos amantes. Viram o tudo e do tudo viveram, na eterna inconstância do querer.
Amanheceu, porém, e assim voltaram ou permaneceram, nunca quietos, mas com uma inquietude diferente. Ela, sem limites, incontrolável dama, guia do amor, já não mais sentia sua mãos segurá-lo. Agora sentia que as mãos dele[amor, aquela que ela prometera guiar], cegas e inconstantes, permeavam caminhos irresistíveis. Ele, tão sóbrio e sereno, já não sabia conter a completude que preenchia cada espaço do seu infinito.
Porém os dois não compreendiam. Não se atavam a compreender, não se sabe se por preguiça ou por paixão, talvez por falta de razão.
O que importa, é que a rosa nunca murchou; assim como cada pétala, cada vez mais cega, que veio depois. Pois desde aquele entardecer coberto de pétalas de fogo, a loucura e o céu nunca mais deixaram de passear sobre seus infinitos particulares, a cada minuto de sua existência eterna.
E quando veres a loucura a bailar com o céu, descobrirás porque nele ela encontrou seu limite.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Conto de Chuva

Hoje eu te descobri. Descobri também aquela velha nuvem que te cercava, constante; inconstante. Na verdade, te descobri por ela, com ela; contigo. Aquele brilho fosco, morto, e de forma tão intensa como nunca vira outrora. Mas não te amei por acaso. Amei-te pelo teu mórbido cintilante, amei-te pelos teus cílios calados, amei-te pelo imprevisível que fostes, naquele instante de escuridão e luz; amei-te mais ainda pelo teu fulgor frio, encoberto pela fortaleza de algodão negro.
Queria te ver sempre assim, mistério. Queria apaixonar-me novamente, e sempre, "e que mesmo em face do maior encanto" que dele me encante mais a ti. Queria te ver sobre chuvas, tormentas e ressacas marinhas. Queria te ver, ali, na tua infinita glória particular da contradição.
Mas não te prometo promessas, nem o fardo do meu cansado carinho. Não te prometo também meu amor eterno, ou admiração constante. Só quero que te contentes com teu descobrimento, por esses olhos fadados a amar outra; e somente outra. Só quero que te contentes com esse breve instante de flerte, de coincidência delirante, de amor, enfim.
E que se algum dia eu te encontrar novamente, que seja pelos mesmos acasos que nos trouxeram outrora. Que tu me iludas com essa inspiração fosca e intensa, e que assim seja,  nesse mistério errante dos destinos, nossos encontros perdidos ao tempo nessa estrada passageira.
Hoje eu te descobri, Sol.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Verdades de Rosa




Concedi então a inspiração que sufocava seu ímpeto, talvez por semelhante preguiça de lutar contra o que já não havia jeito. E que seja então!! Que escrevas tu, ó Rosa, sobre essa ignorância tão previsível que é viver! Que descrevas, quem mais poderia, o desabrochar desses macabros seres, que a ti pisam e de ti retiram teu fulgor de pétalas...que murcham e murcham como almas! E então, que vem a me dizer?
Rosa veio falar de escadas. Escadas que sobem e sobem, sem nunca acharem seu fim pérfido. E talvez por isso, disse Rosa, elas dominem o mundo. Escadas feitas de outras pétalas, de outras Rosas, e tantas e tantas pessoas a subir, esmagando suas próprias pétalas, sem, até, qualquer consciência (ainda existiria?).
Rosa falou-me também de muros. Muros de pedra, ela me disse, muros que cercam e alimentam essa solidão tão infantil (tipicamente humana),e por vezes,disse-me Rosa, esses muros chegam a isolar o inesolável (neologismos a parte).
Ela também falou-me desse, o inesolável. Rosa se apaixonou por ele. Na verdade, acho que o amou (talvez o ame). Disse-me que por mais muros que o cercassem ainda haviam, e haveriam sempre, pétalas que o tocavam. Mas não sei se Rosa me dissera a verdade, já que humanos sempre ditam que o amor é cego (na verdade, a cada dia me convenço mais de sua própria cegueira).
E então, depois de contê-la em seu próprio papel, Rosa cercou-me de muros, como por castigo por podar sempre suas pétalas. Mas o fazia por cuidado, para que não tomassem conta do seu espírito. Pétalas podem ser perigosas, se não podadas; mas ela sempre me dizia, insistentemente, que o inesólavel tomaria cada um de seus membros cortados, e os guardaria para derrubar seus muros.
Comovido perguntei: Quem és tu, Rosa?
Rosa sou eu.

"Cogito, ergo sum"