terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Verdades de Rosa




Concedi então a inspiração que sufocava seu ímpeto, talvez por semelhante preguiça de lutar contra o que já não havia jeito. E que seja então!! Que escrevas tu, ó Rosa, sobre essa ignorância tão previsível que é viver! Que descrevas, quem mais poderia, o desabrochar desses macabros seres, que a ti pisam e de ti retiram teu fulgor de pétalas...que murcham e murcham como almas! E então, que vem a me dizer?
Rosa veio falar de escadas. Escadas que sobem e sobem, sem nunca acharem seu fim pérfido. E talvez por isso, disse Rosa, elas dominem o mundo. Escadas feitas de outras pétalas, de outras Rosas, e tantas e tantas pessoas a subir, esmagando suas próprias pétalas, sem, até, qualquer consciência (ainda existiria?).
Rosa falou-me também de muros. Muros de pedra, ela me disse, muros que cercam e alimentam essa solidão tão infantil (tipicamente humana),e por vezes,disse-me Rosa, esses muros chegam a isolar o inesolável (neologismos a parte).
Ela também falou-me desse, o inesolável. Rosa se apaixonou por ele. Na verdade, acho que o amou (talvez o ame). Disse-me que por mais muros que o cercassem ainda haviam, e haveriam sempre, pétalas que o tocavam. Mas não sei se Rosa me dissera a verdade, já que humanos sempre ditam que o amor é cego (na verdade, a cada dia me convenço mais de sua própria cegueira).
E então, depois de contê-la em seu próprio papel, Rosa cercou-me de muros, como por castigo por podar sempre suas pétalas. Mas o fazia por cuidado, para que não tomassem conta do seu espírito. Pétalas podem ser perigosas, se não podadas; mas ela sempre me dizia, insistentemente, que o inesólavel tomaria cada um de seus membros cortados, e os guardaria para derrubar seus muros.
Comovido perguntei: Quem és tu, Rosa?
Rosa sou eu.

"Cogito, ergo sum"