segunda-feira, 22 de abril de 2024

Para você e você nem sabe


Passo pelos cantos do apartamento e lembro das histórias que criei para você.

Tenho vontade de matar essa falta de algo que nem existe. Penso que vai durar pouco, mal tenho lembranças para me sufocar os dias.

Ao passo que me agarro a dor de amar a ideia. 

Costurei nossos nada com linhas bonitas. Dei pontos firmes achando estar segura com as estampas em branco. 

Só não contava comigo mesma aquarelando seus cachos nas bordas. 

Pintando às cegas seu olhar com bebida e calor.

Agora olho pra costura e sinto tristeza e pesar ao ter que desfazê-la. 

E a cada linha que corto nos contornos que eu mesma desenhei, ficam os buracos por onde a agulha passou, me olhando, desconfiados.

O vazio tem mesmo esse olhar desconfiado para a gente. 

(…)

Sei que você farejou na esquina minha falta de amor próprio, eu vi nos seus olhos o desprezo por aquela figura, por isso não consegui mais levantar a cabeça.

Foda-se que não vou ter nenhuma das histórias que escrevi em bordados.

Não vou guardar as costuras nem o cheiro dos seus cachos. Não vou guardar a fumaça nem o dia que nunca amanheceu. 

Quero guardar só a dor, porque essa é minha. E deixar, em contemplação curiosa, nos buracos das linhas o vazio que também é meu pertence. 


"Did you really beam me up
In a cloud of sparkling dust
Just to do experiments on
[...]
They'll say I'm nuts if I talk about
The existence of you
For a moment, I was heavenstruck
Now I'm down bad, cryin' at the gym
Everything comes out teenage petulance
Fuck it if I can't have him" 

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Meu bem,


"Meu bem querer,
é segredo, é sagrado,
está sacramentado em meu coração"

Ainda que as estradas não tenham se cruzado, eu sei que elas se olharam. E quero guardar seu olhar como uma luz, no meio do meu caos comumente escuro. Queria poder te dizer que te sonhar me fez bem. Que seu sorriso foi um desconcerto bonito pro meu coração. Que eu não sabia parar de procurar nos seus olhos uma certa parte de mim, e que eu quis muito mergulhar, sem volta, nesse seu céu claro, em nascer do sol. Seu nome era como um doce preferido, que toda noite eu ansiava por provar na minha imaginação infantil. Não quero te guardar como mágoa, ou como um sabor que não senti. Só quero lembrar da leveza de me sentir apaixonada, e de te ser grata, meu bem, pelo bem que você não me fez, mas me fez querer sentir.

segunda-feira, 16 de março de 2015

Porque hoje é "díspares", como diriam os "sábios".


Bufo.

E quem diria?

Quedou-se.

Caíram ao chão as promessas de eternidade, e os sorrisos do comum. Caíram os surdos apelos de felicidade e o contentamento juvenil. Rastejam ao chão os pra sempre proclamados, e as certezas decoradas. Não ecoa nos corredores nada além do que não é..

Sinto saudades..porque o ontem é sempre mais claro e verde (e bonito, e simples, e inalcançável)  que o amanhã. E o hoje é só os dois brigando entre si.

Por mais vaga que seja a queda, por mais lento que seja seu tombo...o cair sempre desperta. E a dor é sempre desespero, porque ninguém lembra como é não senti-la quando de modo tão devastador ela toma todas as ranhuras de espaço.
E as linhas não precisam ter sentido para tomar o peito em vil descrença..
Porque a queda é um sorriso irônico, olhando para cima, pacientemente à espera...se movendo, languidamente, rastejando o encontro e aproximando a respiração, lenta e forte..


É nesse instante sereno, porque triste, que levantam-se as mãos e prestam-se preces a felicidade.

vamos ver se dessa vez eu acerto de novo: "a tempestade que chega é da cor dos teus olhos castanhos..."

domingo, 18 de agosto de 2013

Areia nos bolsos




"Se puderes olhar, vê.
Se puderes ver,
Repara."
(José Saramago)



Quando uma certa luz ensolarada, calorosa, macia e leve invade aquele ser enrijecido pelo cinza do asfalto....Ah....
(...)


E ainda resta a areia nos bolsos!!!



      Acordar com o frio do vento uivando, parecendo canção que flui o dia inteiro pra dentro da gente. Andar com o sol caminhando de lentinho, que é para o tempo parecer não passar, escorregando devagar por essa vida leve de quem sente o bronze queimando a pele. Sabe como é voar?? Voar pela areia da praia, nas duas rodas de uma bicicleta (e tombar no céu, desvairada!)!! Nadar só pra ver o sorriso do mar quando marca a gente com aquele sal, que depois ninguém sabe mais se é pele ou se é mar. Emaranhar os cabelos no anoitecer silencioso...como lençóis negros se estirando aos nossos olhos... Dançar ao leve sabor dos coqueiros... Tão lento...Como se, por aquele instante, todo o mundo girasse tão terno quanto aquele movimento. Ouvir o escuro se desmanchando em pequenas gotas de luz (1...2...3...4...Milhares!!!) e desdobrar-se em motivos para aquele espanto de felicidade... Tão pleno quanto fugaz...Parece até uma música leve ecoando baixinho dentro do peito, com uma saudade de quem se é...

-já sente o gostinho do mar?...

terça-feira, 16 de abril de 2013

Cotidiano- máscara de sonhos desfalecidos

 
   Sempre tentei achar qualquer tipo de motivação nos dias que me passam...Uma flor a beira do caminho, a chuva que me é tão amada, um rastro de compaixão...Qualquer leveza que nos absorva desse aspecto comum do passar das horas...A existência como algum pleno do simples.
   E por mais que alguns dias sejam repletos de sensibilidades errantes, assim como um caminho de humor ou  algum tipo de alienação egoísta; eu sinto as engrenagens enferrujadas permeando os meus dias...As horas...seguidoras mudas do previsível: cotidiano.
   Encher-se de metas ou desafios simultâneos, esquivar-se em si mesmo e nas próprias justificativas vazias da infelicidade. Não sei ao certo o que procurar nesses escombros do hoje...E não há anestesia para a realidade.
  Somos como fantoches das nossas próprias ilusões de sentido! Somos vazios. Reflexões incompletas de um abismo existencial...Alienados sobre a própria alienação. Almas que vagam em desencontros afetivos preenchedores de um torpor qualquer, de uma necessidade de vida!
  Ando tão sedenta de algo que me faça buscar incessantemente um cerne repleto de significado...Algo que me mova verdadeiramente a mais do que a busca de um tipo de subjetividade...Algo tão sublime como a necessidade de voar! De entregar-se a uma cachoeira perdida no tempo, de águas calmas e azuladas...
  Mas tudo não passam de perguntas...novas e novas formas de suportar o fardo do trivial...Daquilo que corrompe lentamente, do que consome pilares até a decomposição...Desse ciclo pueril  que encobre a beleza já não suficiente...

"Meu amor, meu amor, irmos cara o maior; Miña amada, meu ben, imos polas terras do alén..."


sábado, 24 de novembro de 2012

Aos Tolos,

  
  Quando as pessoas fatigarem teu peito de sentir...e veres então que nada te cerca, a não ser esse teu amor exagerado...Que caia a mais pura lágrima...a mais doce subversão...
  Quando a dor do amor não encontrar consolo no teu pranto, então tua voz calará os teus olhos baixos, e tu pensarás em jamais amar de novo qualquer criatura a não ser a si mesmo. Teu peito ofegante pela cólera, tomado por mais um desses teus sentires, explodirá em mil rosas...Tão raras e puras, derramando orvalho, como lágrimas pela solidão do não cultivado...
  E então estarás sozinho. Pronto para recomeçar a existência sem afeto qualquer...Teus passos não deixarão rastros e teu olhar não será entregue...Tu serás semente de si.
  Mas quando contemplares a primeira flor a beira do caminho, entre pedras sufocada, então tu compreenderás...Que a tua existência, doída de tanto sentir, é como uma flor a beira da estrada: esmagada pelas pedras, mas ainda sim, banhada de encanto e leveza capazes de fazer teu peito suspirar novamente...
-É quando vejo pequenos brotos despontando de dentro de ti...

terça-feira, 20 de novembro de 2012

  

 Saudade é como um copo meio vazio (ou meio cheio?), porque ela só existe se houver algum tipo de presença. É a contradição em si mesma: da presença que desvelou a ausência; da alegria que cominou na dor.

"Cogito, ergo sum"