Passo pelos cantos do apartamento e lembro das histórias que criei para você.
Tenho vontade de matar essa falta de algo que nem existe. Penso que vai durar pouco, mal tenho lembranças para me sufocar os dias.
Ao passo que me agarro a dor de amar a ideia.
Costurei nossos nada com linhas bonitas. Dei pontos firmes achando estar segura com as estampas em branco.
Só não contava comigo mesma aquarelando seus cachos nas bordas.
Pintando às cegas seu olhar com bebida e calor.
Agora olho pra costura e sinto tristeza e pesar ao ter que desfazê-la.
E a cada linha que corto nos contornos que eu mesma desenhei, ficam os buracos por onde a agulha passou, me olhando, desconfiados.
O vazio tem mesmo esse olhar desconfiado para a gente.
(…)
Sei que você farejou na esquina minha falta de amor próprio, eu vi nos seus olhos o desprezo por aquela figura, por isso não consegui mais levantar a cabeça.
Foda-se que não vou ter nenhuma das histórias que escrevi em bordados.
Não vou guardar as costuras nem o cheiro dos seus cachos. Não vou guardar a fumaça nem o dia que nunca amanheceu.
Quero guardar só a dor, porque essa é minha. E deixar, em contemplação curiosa, nos buracos das linhas o vazio que também é meu pertence.
Just to do experiments on
They'll say I'm nuts if I talk about
The existence of you
For a moment, I was heavenstruck
Now I'm down bad, cryin' at the gym
Everything comes out teenage petulance
Fuck it if I can't have him"
1 comentários:
Esse texto tem a estética de um desabafo catártico, como se o peito de quem escreveu estivesse a se abrir, dolorosamente, em cada verbo, em cada palavra, gota por gota. Ainda que da perspectiva do fim da vida, toda dor seja insignificante, sobretudo em se tratando de rompimentos, isso não impede que machuque, que transforme. A perda, sobretudo das idealizações, esvazia a gente até que sobre somente o cinismo.
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